TJGO – Índia que viveu mais de 30 anos em aldeia consegue pensão por morte do marido
10 de novembro de 2014Depois que mudei para cidade minha vida mudou, mas foi para pior”, afirmou Kualaru Francisca Karaja. Os traços do rosto, o cabelo e a dificuldade de falar português revelam a origem da mulher de 42 anos. Nascida e criada na Aldeia Indígena Mirindiba, na Ilha do Bananal, no estado do Tocantins, Kualaru conta que foi morar na cidade há dez anos, com o marido e os filhos, para tentarem um vida melhor. Porém, sete anos depois, o marido morreu atropelado por um caminhão na rodovia. E foi por esse motivo que ela, com a ajuda de um amigo, moveu uma ação para requerer a pensão por morte rural do marido. O acordo foi homologado pelo juiz Everton Pereira Santos, durante a realização do Mutirão Acelerar Previdenciário, na comarca de Nova Crixás. Além do benefício de um salário mínimo, no prazo máximo de 60 dias, Kualaru receberá R$ 4 mil de atrasados.
O maior sonho da índia é voltar para a aldeia, porém, por causa dos filhos, não sabe se poderá. “Eu tinha certeza que assim que conseguisse o benefício eu iria voltar, mas meus filhos não querem porque eles precisam estudar”, disse ela, que não gosta de morar na cidade porque “aqui a gente tem que comprar as coisas, lá eu pescava, colhia e plantava”.
Kualaru contou que essa foi a primeira vez que foi ao fórum. “Nunca tinha precisado, igual hospital. Até hoje só fui uma vez, para ver o meu marido, mas quando eu cheguei lá, ela já tinha morrido”, relatou. “Se não tivéssemos vindo para Bandeirante, ele não teria morrido. Mas era o que ele mais queria”.
Sobre as dificuldades que encontra na cidade, ela fala que a maior é falar o português correto, já que o dialeto que aprendeu foi o carajá. “A gente aprendia mais ou menos o português porque iam muitos turistas na aldeia, mas quando cheguei na cidade não entendia nada. Vocês falam muito rápido e bonito também”, afirmou.
Ao lembrar da vida da aldeia, Kualaru afirmou que se casou com um índio de outra aldeia. “Somos proibidas de casar com parentes próximos e até com os primos. Mas minha mãe queria que eu casasse com alguém da minha tribo para manter a união familiar. Mas mesmo sem ela querer, eu casei. E foi tão bonito !”, relembra. “Mas agora vou fazer de tudo para criar meus filhos e meu netinho, que está chegando, não vai ser do jeito que eu quero, na aldeia, mas daqui a alguns anos eu volto para lá”, completou.
Histórias
Entre as 800 pessoas que foram atendidas no fórum de Nova Crixás, nas quinta e sexta-feiras (6 e 7), durante a realização do Mutirão Previdenciário, estava seu Otávio Pereira Brito, de 66 anos, que percorreu quase 100 quilômetros para se aposentar. Ele foi ao fórum com um vizinho e com a “namorada” de 11 anos, dona Adelaide Aparecida Gomes Ferreira, de 51 anos. “Agora já posso pedir a Adelaide em casamento”, disse, ao ficar sabendo que conseguiu o benefício na audiência presidida pela juíza Marli Naves. O que parecia brincadeira era verdade e, ainda no fórum, na frente da juíza e de outras pessoas, o pedido foi feito. “A gente tem que casar mesmo, estamos juntos há 11 anos e nada foi oficial, mas ela vai ter que ir morar na fazenda comigo”, completou.
FONTE: TJGO